Tarifas? Giorgia Meloni tenta ser ponte entre UE e EUA com visita a Trump
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, procura esta semana assumir-se como a intermediária entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos em plena guerra comercial, com uma visita à Casa Branca imediatamente seguida de uma receção ao vice-presidente norte-americano.

A deslocação de Meloni a Washington ocorre num momento de acentuadas tensões comerciais depois dos anúncios de Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário.
No entanto, a suspensão das tarifas recíprocas à Europa por 90 dias, entretanto anunciada pelos EUA, que levou a UE a suspender por igual período as tarifas de 25% a produtos norte-americanos que adotara como resposta, abriu uma janela diplomática e de negociação que a primeira-ministra italiana – a primeira líder europeia a encontrar-se com Trump desde o anúncio na ‘pausa’ nas taxas – quer aproveitar.
Contudo, muitos analistas consideram que Meloni enfrenta uma missão quase impossível, e a sua deslocação à Casa Branca é olhada com reservas por alguns parceiros europeus, com França à cabeça, e severamente criticada pela oposição italiana, que acusa a primeira-ministra de ser “o cavalo de Troia” de Trump e do magnata Elon Musk — de quem também é muito próxima — dentro do bloco europeu.
“Se começarmos a ter conversações bilaterais, esta dinâmica [de unidade europeia] que está presente neste momento acabará por se quebrar. É um risco que tem estado presente desde o início, porque sabemos que Donald Trump tem uma estratégia bastante clara e simples: dividir os europeus. Perante este risco, temos de estar unidos, porque a Europa só é forte se estiver unida”, comentou recentemente o ministro francês da Indústria, Marc Ferracci.
Já fontes diplomáticas europeias consideram que a visita não é problemática desde que Meloni não se limite a transmitir a sua mensagem nacional, mas também “a linha oficial da UE”.
As críticas à deslocação de Meloni a Washington são rebatidas pelo Governo italiano, com fontes do gabinete da primeira-ministra a garantirem que esta “não vai a Washington para minar o processo europeu, mas para usar a sua boa relação [com Trump] para ajudar a facilitar uma negociação europeia”.
Como trunfos negociais, Giorgia Meloni deverá mostrar abertura em Washington para um aumento da compra de gás natural liquefeito dos Estados Unidos por parte dos europeus, assim como apoio à ideia de que parte substancial dos fundos financiados com dívida europeia para a compra conjunta de equipamento militar por vários países se destine aos EUA.
Vários analistas apontam a proximidade entre ambos, até a nível ideológico, mas salientam que a primeira-ministra italiana supostamente representará também os interesses da UE, bloco que Trump afrontou repetidamente.
Embora oficialmente o bloco comunitário apoie a iniciativa de Meloni, com o tradicional argumento de que todos os esforços diplomáticos para evitar a escalada da guerra comercial são bem-vindos, Bruxelas e ‘pesos-pesados’ como França e Alemanha recusam ficar à margem de negociações com Washington e seguirão com particular atenção os desenvolvimentos deste encontro bilateral.
Na segunda-feira, um porta-voz da Comissão Europeia, lembrando que a negociação de acordos comerciais é da competência exclusiva do executivo comunitário, mas sustentando que todos os contactos são bem-vindos, garantiu que a presidente Ursula Von der Leyen tem estado em “contacto regular” com Meloni em relação a esta missão.