“Quando se vive a doença de um filho, não se vive coisa nenhuma”
– Está bem. A mãe vem a caminho e passa no supermercado, sim?
– …
– O que foi? Ficaste triste?
– Não, mas não quero dar trabalho à mãe”, começa por relatar o conhecido escritor.”Não dás trabalho. Dás amor. Mas sabes tudo. Sabes que quando se vive a doença de um filho, vive-se na doença de um filho. À volta, tudo como se continuasse, mas nada existe. Quando se vive a doença de um filho, vive-se contra a doença de um filho“, reflete.”Os dias são episódios no meio de uma trincheira, estamos sempre à espera de ataques que podem vir não se sabe bem de onde, cada pequeno avanço é festejado como o começo da vitória final, é a possibilidade de ser mesmo que nos mantém assim, elétricos apesar de na lama, corajosos apesar de cagados de medo, maiores do que nunca apesar de mais mais dobrados do que nunca”, realça.
“Quando se vive a doença de um filho, não se vive coisa nenhuma; caminhamos numa estrada paralela à da vida que os outros vivem, estamos ali ao lado, podemos fazer por fora o que os outros fazem, podemos aqui e ali falar, juntar palavras, podemos aqui e ali ouvir, entender palavras, mas por dentro não estamos a viver como os outros vivem, estamos escondidos atrás, dentro, de uma matrix de angústia, uma espécie de lugar solitário, onde só está, para onde só desce, ao qual só tem acesso, quem está enfiado no lodo da doença de um filho”, continua.
“Quando se vive a doença de um filho, nascemos a cada acordar dele, a cada progresso dele, a cada esperança dele. Hoje nasci muitas vezes, então. Que assim seja todos os dias”, diz, por fim.
Eis a mensagem completa:
Note-se que Benjamim, de seis anos, foi diagnosticado aos três meses com deficiência de alfa-1 antitripsina.