Está no Tejo o porta-helicópteros que forma os chefes da Marinha francesa
Lisboa é a última etapa da Missão Jeanne D’Arc, fase final da formação de 160 alunos da escola naval. Ao todo, foram cinco meses a bordo do Mistral. Uma “pequena cidade” flutuante, como explica ao DN o comandante, Alexis Muller, onde não falta sequer um hospital.
Duzentos metros de comprimento, 35 de largura, 65 de altura e 23 mil toneladas – este é o porta-helicópteros anfíbio Mistral. As dimensões impressionam quem pela primeira vez entra na ponte de comando daquele que o comandante Alexis Muller apresenta como “o segundo maior” navio da Marinha francesa, apenas superado pelo porta-aviões Charles de Gaulle, e que por estes dias esteve ancorado no Porto de Lisboa. A capital portuguesa é a última paragem da missão Jeanne D’Arc 2022, etapa final na formação das chefias da Marinha, após dois anos na Escola Naval. E para hoje estão previstos exercícios conjuntos com os fuzileiros portugueses.
A bordo do Mistral estão 650 pessoas, entre elas 200 tripulantes, 160 oficiais-alunos (15% mulheres, a mesma percentagem da tripulação) e elementos do Grupo Tático Embarcado (120 militares, além de 25 veículos). Uma “pequena cidade” flutuante à qual nem falta um hospital, como explica o comandante Muller, de pé, no seu uniforme branco imaculado, na ponte do navio que comanda desde 2020. É naquela sala, hoje com vista para o Tejo, que todas as manhãs, às 8h00, começam as jornadas no Mistral, com uma reunião do comandante com os seus adjuntos.
Mas comecemos por explicar o que é a Missão Jeanne D’Arc. “A singularidade da Jeanne D’Arc é que tem dois objetivos num só. Primeiro, é uma escola de formação de excelência de oficiais da Marinha. São cinco meses nos quais passamos por diferentes zonas marítimas de interesse estratégico para França – Mediterrâneo, mar Vermelho, Índico, golfo da Guiné, Atlântico e Antilhas”, aponta Alexis Muller. Natural de Reims, o comandante passou ele próprio pela Missão Jeanne D’Arc, na altura a bordo do porta-helicópteros homónimo, que servia só para formação dos oficiais e cujo nome ficou agarrado a uma missão que hoje roda anualmente entre os três porta-helicópteros franceses – Mistral, Tonnerre e Dixmude. Nos meses embarcados, “o objetivo é que os oficiais-alunos, que dentro de duas semanas assumem funções de chefia nos navios da Marinha francesa, possam aplicar o que aprenderam na Escola Naval. É por isso que eles fazem serviço na ponte, na central de operações e nas máquinas”, explica Muller. Enquanto lá em baixo a pista de aterragem, onde se destacam os números gigantes rodeados de círculos que marcam os locais de aterragem dos helicópteros, começa a ser preparada para o cocktail da noite e os oficiais-alunos vão saindo para visitar Lisboa, o comandante esclarece que não bastam os conhecimentos técnicos para se ser um bom chefe: “Fazemos também a transição em termos de comportamento. Porque até agora eles estavam na escola, eram alunos, mas têm de aprender a ser chefes. Têm de aprender a encontrar a força moral para avançarem se houver um conflito e para motivar as suas equipas. Esta é a primeira parte. A segunda é, indo nós a zonas marítimas diferentes, desenvolvermos a influência francesa, a cooperação com parceiros estratégicos, bilateral ou multilateral. Seja com o Egito, Índia, Gabão, Brasil ou, hoje, Portugal.”