Biden cede à pressão e sai. E agora? Kamala é favorita, mas não é certa
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Os alertas começaram a 27 de junho. Após uma prestação desastrosa no primeiro frente a frente com Trump, muitos alertaram que Biden não tinha ‘pedalada’ para estar na corrida à Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos bateu o pé, defendeu-se e garantiu que ia estar à altura.
Seguiram-se uma série de tropeções e enganos, que ganharam ainda mais destaque quando Biden, num encontro com Zelensky, o apresentou como se tratando de… Putin.
“Quem nunca se enganou”, foi uma das desculpas usadas para tentar reduzir a importância da falha, mas uma tentativa de assassinato ao seu principal opositor e uma doença repentina levaram ao desfecho inevitável.
Biden desistiu da corrida e entre preocupações e respiros de alívio fica no entanto por saber: o que vai acontecer agora?
Os pedidos de desistência e as 72h decisivas
A ideia de desistir começou a tornar-se mais intensa na passada semana. Primeiro foi Nanci Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, terá ligado a Biden e dito que este não tinha chances de ganhar, tal como ditavam as sondagens.
Seguiu-se Barack Obama. O antigo presidente dos Estados Unidos considerou que as hipóteses de Joe Biden ser reeleito para a Casa Branca diminuíram, tendo partilhado com aliados democratas próximos que Biden devia avaliar a viabilidade da sua recandidatura.
Mais tarde, viria porém a contradizer-se a reiterar o seu apoio afirmando que “más noites de debate acontecem”. “Confiem em mim, eu sei. Mas esta eleição ainda é uma escolha entre alguém que lutou pelas pessoas comuns durante toda a sua vida e alguém que só se preocupa consigo mesmo”, escreveu Obama na plataforma X.
A teoria da desistência terá sido partilhada por vários democratas que dentro do circulo do partido afirmavam que o o cerco de Biden estava a apertar e que as 72 horas seguintes seriam determinantes. E assim foi.
Biden ‘atira toalha ao chão’ e promete apoio a Kamala
Biden acabou por anunciar, este domingo, que vai abandonar a corrida às eleições presidenciais de 5 de novembro, remetendo para mais tarde um discurso à nação com mais explicações.
No mesmo comunicado, anunciava o apoio à sua vice presidente Kamala Harris. De acordo com o Washington Post antes de anunciar a sua decisão, presidente e vice presidente falaram por diversas vezes ao telefone, ontem, para preparar aquele que será o próximo passo da campanha democrata às eleições.
“É uma honra receber a recomendação do Presidente e a minha intenção é merecer e ganhar esta nomeação”, disse Harris, confirmando momento depois a sua candidatura, numa declaração em que qualificou a decisão de Joe Biden de abandonar a corrida eleitoral como um “ato abnegado e patriótico”.
Depois de Joe Biden, também o casal Bill e Hillary Clinton deram o seu apoio público à candidatura de Kamala a Presidente pelo Partido Democrata.
O apoio a Kamala tem vindo a ‘conta-gotas’ e há até nomes fortes que ainda não anunciaram o seu apoio, como foi o caso dos líderes democratas no Senado, Chuck Schumer, e na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries. Também a ex-presidente do Congresso, a influente Nancy Pelosi, não anunciou apoio a Kamala.
Alguns democratas têm vindo a defender um processo “aberto”, em alternativa à substituição automática de Biden pela sua número dois.
O que acontece agora?
Apesar do apoio de Biden, a simples candidatura de Kamala não significa que esta passe a ser automaticamente a candidata dos democratas, isto porque esta terá ainda de ser sujeita à avaliação da convenção partidária de Chicago em meados de agosto, onde os cerca de 3.900 delegados democratas são agora livres de escolher o seu candidato.
Kamala Harris, a primeira mulher e a primeira afro-americana a ocupar a vice-presidência dos EUA poderá enfrentar a concorrência de outros membros da jovem guarda do partido democrata para o lugar de candidato. Na lista deverão estar o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro.
Uma vez escolhido o novo candidato, resta o grande problema de avançar com uma campanha de três meses para se dar a conhecer aos mais de 250 milhões de americanos em idade de votar e, sobretudo, conseguir convencê-los.