Centeno volta atrás e diz que não foi convidado pelo PR para chefiar Governo
Mário Centeno emitiu esta segunda-feira um comunicado no site do Banco de Portugal a contradizer as declarações que fez ao jornal Financial Times.
Mário Centeno reconheceu esta segunda-feira que não foi convidado por Marcelo Rebelo de Sousa para suceder a António Costa como primeiro-ministro.
O Governador do Banco de Portugal escreveu, no site da entidade que lidera, que foi Costa que o convidou a “refletir sobre as condições” que lhe poderiam permitir assumir a liderança do Governo e que esse convite “resultou das conversas que o Senhor Primeiro Ministro teve com o Senhor Presidente da República”.
“Num exercício de cidadania, aceitei refletir”, afirmou Centeno.
“Não foi possível dirimir neste curto espaço de tempo todas as condições de exercício do que me era solicitado. Desta forma, nunca houve uma aceitação do cargo, mas apenas uma concordância em continuar a reflexão e finalizá-la em função da decisão que o Senhor Presidente da República tomaria”, acrescentou.
No último paragrafo do comunicado, Mário Centeno vinca: “Em resultado desta opção, é inequívoco que o Senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo.”
Em declarações ao jornal Financial Times, no domingo, o governador do Banco de Portugal afirmou que teve “um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo” e que estava “muito longe de tomar uma decisão”.
Por sua vez, o primeiro-ministro, António Costa, que pediu a demissão do cargo na terça-feira, assumiu na quinta-feira a defesa de um novo Governo liderado por Mário Centeno, para evitar eleições legislativas antecipadas, e lamentou que o Presidente da República tenha optado por dissolver o parlamento.
Em comunicação ao país, na quinta-feira, o Presidente da República anunciou a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro, na terça-feira.
Segundo o Ministério Público, António Costa é alvo de uma investigação remetida para o Supremo Tribunal de Justiça após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.
Ao demitir-se, o primeiro-ministro recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável”.
De acordo com o Ministério Público, no processo sobre negócios do lítio, do hidrogénio verde e do centro de dados em Sines podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.
Eis o comunicado na íntegra:
“Na sequência dos eventos desencadeados com a demissão do Senhor Primeiro Ministro, no dia 7 de novembro, este convidou-me a refletir sobre as condições que poderiam permitir que assumisse o cargo de Primeiro Ministro.
O convite para essa reflexão resultou das conversas que o Senhor Primeiro Ministro teve com o Senhor Presidente da República.
Num exercício de cidadania, aceitei refletir.
Não foi possível dirimir neste curto espaço de tempo todas as condições de exercício do que me era solicitado. Desta forma, nunca houve uma aceitação do cargo, mas apenas uma concordância em continuar a reflexão e finalizá-la em função da decisão que o Senhor Presidente da República tomaria.
O Senhor Presidente da República, depois da realização do Conselho de Estado, no dia 9 de novembro, optou pela dissolução da Assembleia da República.
Em resultado desta opção, é inequívoco que o Senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo.”